24.7.09

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A “celebração da putaria” que temos presente constantemente, é um tipo de violência[1] (des)necessária[2]:

Ao se cristalizar em padrões culturais, o conhecimento carnal fornece material inesgotável para o pensamento, especialmente quando aparece em narrativas: piadas sujas, bravatas masculinas, fofocas femininas, canções licenciosas e romances eróticos. Sobre todas essas formas, o sexo não é apenas um tema mas também um instrumento para rasgar o véu que cobre as coisas e explorar seu funcionamento interno. Ele serve assim às pessoas comuns, como a lógica serve aos filósofos: ajuda a extrair sentido das coisas.[3]

A putaria que fagocita em partes o eu-lírico-bípede, surge nas páginas como um evento. Há nessa “celebração da putaria” uma auto-destruição consciente e medida de toda a poética “lírica” – sem a qual nenhum dos dois iria existir em “harmonia” na narrativa.

A eterna poesia de parede de banheiro de todas as épocas: "Aqui dorme Bocage, o putanheiro; Passou vida folgada, e milagrosa; Comeu, bebeu e fodeu sem ter dinheiro".

Sexo, sonho, política, amor, risos, prantos, lamentos, geometria, o duplo, o plágio, a rasura, a pichação, os “erros de português que preservam a oralidade[4]” dos textos, a vida, o espaço e o tempo são algumas recorrências constante destes variados procedimentos de entendimentos do mundo encadernados:

Em O Pensamento Selvagem e outras obras, Lévi-Strauss argumenta que muitos povos não pensam à maneira dos filósofos, ou seja, manejando abstrações. Ao invés disso, pensam com as coisas – as coisas concretas da vida cotidiana, como as tatuagens e a disposição dos móveis (...) Assim como alguns materiais são próprios para serem manipulados, certas coisas são especialmente boas para serem pensadas (bonnes à penser): é impossível dispô-las em padrões que trazem à tona relações inéditas e definem limites antes vagos[5].”



[1] Independente da opinião do leitor, entre necessária ou não, a forma como o sexo surge neste trabalho é superficialmente agressiva, profundamente vulgar e perfeitamente desnecessária.

[2] “Como eu tenho o péssimo costume de não falar sobre sexo, vivo procurando outros meios para me destacar e claro que nunca consigo porque é realmente difícil competir a atenção com alguém que está sem as calças. Não é verdade? Todo mundo acha muito legal, muito descolado falar sobre sexo na frente dos outros, muito natural, porque, alôoo, estamos no século XXI e etc., mas eu acho tão inconveniente falar sobre pinto e bunda. Será que só eu acho isso? Será que só eu acho de mau gosto uma conversa sobre pinto e bunda? Pra mim é estranho entender como alguém, tendo todos os assuntos do mundo, resolve falar sobre pinto e sobre bunda. A esta altura, minhas leitoras moderninhas já estão pensando “vai ordenhar vaca, ô puritano filho-da-puta”, mas não é puritanismo, não recrimino o sexo. Só acho que as pessoas deveriam ter a tendência natural de evitar falar sobre isso, como deveriam ter a tendência natural de evitar comer com os pés. Só isso.” . Disponível em BLOOM, Edward. Introibo ad Altare Dei. http://iaad.blogspot.com/. Acessado em 25 fev. 2007, 21:40.

[3] DARNTON, R. Sexo dá o que pensar. In NOVAES, Adauto (org.)Libertinos e Libertários. São Paulo:Editora Companhia das Letras, 1996. Pg.21.

[4] RIBEIRO, João Ubaldo. Casa dos Budas Ditosos. Rio de Janeiro: Editora Objetiva, 1999, p.11.

[5] DARNTON, R. Sexo dá o que pensar. In NOVAES, Adauto (org.) Libertinos e Libertários. São Paulo:Editora Companhia das Letras, 1996. Pg.21