24.7.09

Como me tornei estúpido





































“Faltou inteligência no Bípede”

Este comentário de Carlos Zílio sobre o livro Av.Rio Branco com Araújo Porto Alegre” e utilizada no próprio livro (imagem acima) resume o que se pretende dizer sobre essa “inteligência” bípede; um tipo de inteligência propositalmente errada. O raciocínio burro. Um entendimento do mundo completamente equivocado, melhor dizendo; um entendimento contrário do mundo. Historicamente os entendimentos claros e corretos do mundo, já nos tiraram das cavernas, controlaram o fogo, fizeram ferramentas e finalmente nos fez supremos em todo o planeta.
Mas hoje, a inteligência só nos aponta seu caráter nefasto em forma de cogumelo radioativo, extermínios e aquecimento global. Em relação ao indivíduo então, aí mesmo que ela se torna mais maligna, pois ao contrário de “melhorar” a existência, ao compreender melhor o mundo, ela isola e afunda o indivíduo no desespero. A inteligência não atenua o peso da existência, e sim se torna o maior de todos os pesos:
“KNOWLEDGE BRINGS FEAR”. “O conhecimento traz medo” está escrito no letreiro da “Universidade de Marte” no desenho Futurama[1]. Mas não é só medo que a inteligência e o conhecimento nos dias de hoje nos trazem:
O álcool ocupa totalmente o pensamento e dá fim ao desespero: cura. (...) Os alcoólatras são compreendidos, são cuidados, têm uma consideração médica, humana. Ao passo que ninguém pensa em compadecer-se das pessoas inteligentes: “Ele observa os comportamentos humanos e isso deve fazer dele uma pessoa muito infeliz”, “Minha sobrinha é inteligente, mas é uma pessoa muito boa. Ela quer sair disso”, “Por um momento, tive medo de que você se tornasse inteligente” (...) a inteligência é um duplo mal: ela faz sofrer, e ninguém se dá ao trabalho de considerá-la uma doença. [2]

Por esses motivos relacionados, a pouca atividade cerebral do bípede é uma questão de sobrevivência: O Bípede é um desequilíbrio. Se o Bípede pudesse pensar, cairia.
Existe uma diversidade de entendimentos “sem inteligência” nesta série bípede. Além das “frases-força” completamente absurdas, sem nexo na realidade, o bípede desfila seu não-entendimento de uma série de categorias.
A geometria é parte fundamental do personagem e seu cenário nos livros, mas dela não se entende nada e ainda faz-se constantes referências ao suprematismo e Malevich. Quadrados, cubos, horizontais e verticais, além do próprio Malevich surgem de maneiras bizarras nas páginas de diversos livros. E por não entender nada de suprematismo, utiliza a geometria para criar um mundo abarrotado de objetos e cenas inúteis. É um entendimento propositalmente quadrúpede do conceito de geometria de Malevich. Hoje, da História da Arte e da vanguarda da União Soviética, só nos restou o humor.



[1] GROENING, Matt. MARS UNIVERSITY in Futurama – Twentieth Century Fox Television, 1999. Primeira Temporada
[2] PAGE, Martin. Como Me Tornei Estúpido.Rio de Janeiro: Editora Rocco, 2001, p.16